No Brasil, estima-se que aproximadamente 12 milhões de pessoas convivam com algum nível de incontinência urinária (IU), caracterizada por qualquer perda involuntária de urina.
A condição afeta a qualidade de vida de mulheres e homens em diferentes faixas etárias, sendo mais frequente em mulheres, por fatores como a anatomia da região pélvica feminina, gestações, partos e menopausa. Mas a incontinência urinária também está associada a outros fatores como obesidade, doenças crônicas e tabagismo.
Conviver com episódios de perda urinária pode gerar desconforto e vergonha, chegando a afetar a vida social, profissional e muitas vezes causando um impacto negativo até mesmo na vida sexual de quem convive com essa condição.
Mas é possível manter o clima entre quatro paredes mesmo quando se está convivendo com a incontinência urinária – e é sobre isso que vamos tratar aqui!
A pesquisa “O impacto da incontinência urinária na sexualidade feminina”, realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com 356 mulheres (243 com incontinência urinária e 113 sem sintomas) concluiu que as mulheres que convivem com essa condição têm mais chance de abandonar a vida sexual. E mesmo aquelas que permanecem com uma vida sexual ativa, relataram grande prejuízo da função sexual devido à presença da incontinência.
Isso por causa da grande preocupação durante o ato com os escapes de urina, com a necessidade de interrompê-lo para ir ao banheiro ou com um eventual odor de urina que possa ser sentido.
O medo de um incidente embaraçoso pode ser tão forte que acaba por inibir a excitação sexual e reduzir o desejo. Isso pode ocorrer tanto com as mulheres quanto com os homens que convivam com a IU.
Além da vergonha e do acanhamento, que podem levar muitas pessoas a deixarem de lado sua intimidade sexual, a incontinência urinária pode afetar a autoestima, a autoconfiança e a imagem corporal. Sentir-se menos atraente e desejável pode comprometer a disposição para a intimidade.
A ansiedade e o estresse ligados à incontinência urinária são componentes emocionais que também podem afetar a função sexual. O estresse constante relacionado à possibilidade de vazamentos pode levar à ansiedade de desempenho, tornando difícil para uma pessoa relaxar e desfrutar da intimidade.
Apesar dos desafios que a incontinência urinária apresenta, existem várias estratégias que podem ajudar a reconciliar a vida sexual e a incontinência urinária, permitindo que os casais mantenham sua vida sexual satisfatória e gratificante.
Primeiramente, a procura por um profissional da área da saúde é essencial. Médicos urologistas e ginecologistas são os profissionais que realizam o diagnóstico do tipo de incontinência e indicam o tratamento adequado para cada caso, como exercícios para fortalecimento do assoalho pélvico, terapias, medicações ou até mesmo cirurgias, dependendo da gravidade do caso.
Outros profissionais de saúde especializados em saúde pélvica, como Fisioterapeutas e Enfermeiros, orientam e supervisionam os exercícios do assoalho pélvico, bem como apresentam técnicas para gerenciar a incontinência urinária.
Eles também saberão indicar os produtos mais adequados ao nível de incontinência urinária de cada um, desde os absorventes diários ou protetores masculinos até calcinhas e cuecas descartáveis, por exemplo.
Mas junto com o acompanhamento médico, há algumas estratégias que podem ser seguidas. Uma delas é manter uma comunicação aberta e honesta com o parceiro ou a parceira. Ter a liberdade para discutir a condição, os medos e as preocupações, pode ajudar a aliviar a tensão e aumentar a compreensão mútua. Com parceria e apoio emocional é possível encontrar em conjunto soluções práticas para minimizar o impacto da incontinência durante o sexo.
Outra estratégia eficaz é a de se planejar antecipadamente para a “hora H”, o que pode ajudar a reduzir a ansiedade e o risco de vazamentos. Fazer xixi antes da atividade sexual, limitar a ingestão de líquidos algumas horas antes do sexo e ter toalhas umedecidas à mão são algumas táticas interessantes.
Experimentar diferentes posições sexuais, encontrando aquelas que colocam menos pressão na bexiga, também pode ajudar a reduzir o risco de vazamentos. Algumas posições podem ser mais confortáveis e menos propensas a estimular a incontinência.
É importante ressaltar que os exercícios do assoalho pélvico, conhecidos também como Exercícios de Kegel, envolvem a contração e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico e podem fortalecer a musculatura dessa região. A prática regular desses exercícios pode reduzir a incontinência urinária e melhorar a função sexual.
Outra possibilidade é a terapia sexual com um profissional qualificado, que pode ajudar a pessoa, ou o casal, a abordar as questões emocionais e psicológicas associadas à incontinência urinária e fornecer estratégias para melhorar a intimidade e a satisfação sexual.
Existem, ainda, medicações e tratamentos disponíveis que podem ajudar a gerenciar os sintomas da incontinência urinária. Todos os tipos de tratamento devem ser avaliados junto com um médico.
Reconciliar a vida sexual e a incontinência urinária pode ser desafiador, mas é possível desde que se tenha as estratégias e o suporte adequados. O impacto da incontinência urinária na vida sexual não deve ser subestimado, pois pode afetar profundamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida.
No entanto, com uma comunicação honesta e aberta, o apoio de profissionais da saúde e adaptações práticas, é possível gerenciar a incontinência urinária e manter uma vida sexual gratificante.
Cada caso de incontinência urinária é único e o que funciona para uma pessoa pode não ser eficaz para outra. Por isso, é essencial adotar uma abordagem personalizada, considerando as necessidades e circunstâncias individuais. Assim, é possível superar os desafios e encontrar um caminho para uma vida sexual saudável e satisfatória, mesmo com incontinência urinária.
Fontes:
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https://www.scielo.br/j/reeusp/a/RThjy4rJzYstdZg5NdWbf8F/?format=pdf&lang=pt
FELIPPE, Mariana Rhein. O impacto da incontinência urinária na sexualidade feminina. 2015. Dissertação (Mestrado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2015.
https://repositorio.unifesp.br/items/3a245322-4b6b-44c1-ae70-77b45c771a37/full
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Varella, Mariana. Mulheres com incontinência: como fica a vida sexual e afetiva? Saúde sem tabu 8, 2021.