O Parkinson é uma doença neurodegenerativa, progressiva, crônica e mais comum a partir dos 50 e 60 anos. Tudo isso significa dizer que ela compromete a parte neurológica do paciente, só progride e não tem cura. Não é fácil, portanto, receber esse diagnóstico. Mas, por incrível que ainda possa parecer para o público em geral, o Parkinson não é, necessariamente, uma barreira limitadora. Os medicamentos atuais são bastante efetivos na melhora dos sintomas, assim como várias terapias – de fisioterapia, fonoaudiologia até aquelas consideradas alternativas, como a prática de tai chi chuan – em especial nas fases inicial e moderada da doença.“Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais efetividade teremos no controle de sintomas e manutenção da qualidade de vida do paciente”, explica Roberta Arb Saba, médica neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Hospital do Servidor Público Estadual.
Embora o sintoma mais conhecido da doença seja o tremor, ele não é o mais comum. Segundo a especialista, a lentidão dos movimentos é a queixa mais frequente. “Na fase inicial, a doença pode ser confundida com o processo natural do envelhecimento”, explica. No entanto, se a lentidão estiver associada à rigidez dos membros e ao tremor em repouso, o diagnóstico, que é clínico (já que não há exames que detectem a doença) fica mais fácil de ser feito.
Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor para a manutenção da qualidade de vida. “Podemos conseguir adequar a medicação para controlar os sintomas, evitando quedas, melhorando a marcha e afastando complicações”, explica a médica. Além disso, é possível iniciar a terapia fisioterápica para fortalecimento muscular e, consequentemente, postergar os efeitos físicos negativos da doença. “Tenho pacientes com Parkinson que, desde que receberam o diagnóstico, se cuidam tanto, fazem tudo tão direitinho, que certamente estão em melhores condições que idosos da mesma idade e que não têm a doença”, afirma a neurologista.
Nesses cuidados, a família tem um papel essencial. Além de contribuir para que os medicamentos sejam administrados nos horários corretos, os familiares são aqueles que ajudarão no dia a dia do ponto de vista das necessidades física e emocional. “Os cuidadores e parentes próximos são fundamentais para manter a qualidade de vida do idoso com Parkinson”, defende a fisioterapeuta Flávia Doná, professora da Universidade Anhanguera de São Paulo e doutora em Distúrbio do Movimento pela Unifesp. “São eles quem ajudarão o idoso a realizar movimentos e alongamentos.
E, acima de tudo, devem ser os maiores incentivadores para que o paciente se mantenha sempre ativo.”Parkinson envelhecimentoManter a qualidade de vida de um idoso com Parkinson também requer prevenir alguns problemas que podem ser comuns ao envelhecimento. Isso porque qualquer debilidade ou doença pode trazer ainda mais complicações para o parkinsoniano. Veja dicas da fisioterapeuta Flávia Doná de como lidar com esse paciente em casa e evitar danos:• Evitar quedas para que o paciente com Parkinson não fique acamado e piore sua condição física? Para isso, tire todos os tapetes da casa do idoso para que ele não tropece e caia.
Evite também deixar objetos, como brinquedos, no chão. ? Cuidado com o cachorro! Embora o bichinho contribua para a saúde afetiva e cognitiva do idoso, também pode provocar quedas. Um cachorro que se coloca no caminho ou sobe pelas pernas pode causar desequilíbrio.? Mantenha um abajur ao lado da cama do idoso para que ele possa acender sempre que se levantar.
Mesmo que ele conheça de olhos fechados o caminho da cama até o banheiro, por exemplo, pode levantar-se no meio da noite e ter um desequilíbrio ou mesmo tropeçar em algo no chão. Assim como o quarto, todos os demais ambientes da casa devem ser bem iluminados.? Oriente o idoso com Parkinson a fazer apenas uma atividade por vez. Nada de falar ao celular e andar pelo corredor, porque ele precisa prestar atenção à marcha. ? Coloque barras de segurança no banheiro, local onde mais acontecem quedas dentro de uma residência.? O idoso com Parkinson não deve usar sapatos com solado inteiro de borracha.
Embora pareça mais seguro, a borracha da parte frontal pode grudar no chão e levar a uma queda, por conta da dificuldade de movimento do paciente. A melhor opção são sandálias fechadas nas laterais, com apenas partes do solado em borracha, pois proporcionam mais segurança para a marcha.• Nada de ficar parado! A imobilidade prejudica ainda mais a rigidez do corpo do parkinsoniano? Não basta apenas exercitar as mãos, apertando a bolinha de borracha.
Sempre que possível, o idoso precisa andar, mexer braços e pernas, bem como alongar o pescoço. ? Na hora de levantar-se de uma cadeira, oriente o idoso a sentar-se na parte mais frontal do assento e trazer o corpo à frente. Isso joga o centro de gravidade do corpo para o tronco, facilitando a tarefa de levantar-se.? O cuidador não pode ser protetor em demasia. Poupar o idoso de se movimentar, fazendo tudo por ele, só piora sua condição física. Ficar sentado, deitado ou parado o tempo todo terá como consequência mais rigidez, perda de flexibilidade e de massa muscular.? Alongamentos devem ser feitos diariamente. Um fisioterapeuta pode orientar e ensinar os movimentos para que eles sejam realizados em casa, até três vezes por dia. • “Pistas” podem ajudar o parkinsoniano? A doença pode levar à diminuição ou perda parcial dos movimentos automáticos.
Por isso, o idoso pode estar andando, parar por algum motivo e, simplesmente, “empacar”. Isso acontece porque o cérebro não sabe o que fazer – não dá a ordem para que os membros inferiores deem um passo. Nesse caso, ao invés de puxar o idoso pelas mãos, dê a ele uma “pista” visual: coloque seu pé à frente do dele. Isso ajuda o cérebro a entender que é preciso pular um obstáculo e fará com que a perna faça o movimento para superá-lo. ? Caso o idoso esteja andando muito devagar, aquém do que é capaz de fazer, a dica é uma “pista” sonora, como bater palmas à frente dele ou bater o pé no chão. O ritmo o ajudará a acelerar.• A mente também precisa ser ativa? Nada de manter o idoso em casa vendo TV o dia todo. Proponha jogos, caso ele tenha dificuldade de movimento, ou incentive-o a aprender coisas novas, como computação, uma dança nova, um idioma ou outra atividade que exercite o cérebro e ainda permita uma maior socialização.